Ao elaborar uma resposta para essa questão, no
contexto da academia, talvez a maior parte dos indivíduos parta da premissa de
que o discurso científico é superior ao discurso da fé. Minha proposta é
relativizar essa aparente verdade. Desse
modo, a resposta a essa pergunta vai variar entre as subjetividades. Para
alguns a resposta é sim, mas para mim não é. Na minha perspectiva a ciência não
torna a crença em Deus obsoleta; na verdade, mais que isso, considero muita pretensão
atribuir à ciência esse poder.
A fé em Deus é anterior ao modelo de conhecimento
vigente, de bases científicas, e mesmo com o progressivo desenvolvimento da
ciência moderna não ocorreu, como talvez previsto por alguns, o desaparecimento
da fé. A fé não pode ser extinguida, porque é uma característica inerente
(alguns dirão ontológica) ao ser humano. Crer/ confiar/ter convicções/ter
esperança faz parte de ser humano. Todo homem tem fé, mesmo que não seja em
Deus. O homem constrói, crê e adora seus deuses (objetos, pessoas e sistemas
sociais diversos). Alguns depositam fé na ciência, eu escolho depositar minha
fé em Deus. Não significa que desprezo a ciência, mas ela não possui minha
confiança plena e minha esperança. Sou um exemplo prático, estando na academia,
de que a ciência não tem o poder de extinguir a fé, de torná-la algo ultrapassado.
A ciência não é o único conhecimento existente, é
um entre outros. Acredito na ciência como um tipo específico de conhecimento
com características peculiares, cuja principal seria a sistematização, com seus
procedimentos, métodos e instituições. A ciência é uma forma de pensar, mas não
é a única. Porque eu deveria submeter a fé em Deus ao método científico de
pensar? A fé não possui a natureza da ciência, não está submetida a suas
comprovações. Não preciso usar argumentos científicos para defender minha fé, o
que seria até mesmo uma contradição. Passarei a usar argumentos de fé em defesa
da minha fé. O Apóstolo Paulo, divinamente inspirado, expôs em sua 1ª Carta aos
Coríntios a diferença de natureza entre a sabedoria humana e a sabedoria de
Deus:
E a minha palavra, e a minha pregação, não
consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de
Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos
homens, mas no poder de Deus. Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos;
não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se
aniquilam; Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus
ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste
mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da
glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não
ouviu,e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o
amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra
todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as
coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém
sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o
espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos
conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não
com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo
ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem
natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
1 Coríntios 2:4-14
1 Coríntios 2:4-14
Muito se questiona a fé em Deus no ambiente
acadêmico, mas também muito se pode questionar a ciência. Quem produz a
ciência? É a ciência neutra? A quem tem servido as “evoluções” da ciência, que
muitas vezes tem produzido a involução do ser humano e da sociedade? Não entendo
a ciência como um saber completo, absoluto, que teria o poder de extinguir os
outros saberes que o ser humano carrega em si. A ciência não é plena, carrega
fragilidades. Existe a maior das contradições possíveis em sua constituição:
ser produzida pelo ser humano. Busca objetividade e neutralidade mas é
produzida por seres subjetivos, num contexto de relações sociais complexas
marcadas por interesses e disputas de poder.
Para que a fé exista ela precisa ser
cientificamente comprovada? A fé independe da ciência para existir. Muitas
vezes a fé, a religião, comportamentos e artefatos a ela relacionados são até mesmo
tomados como objetos de investigações científicas, mas são fenômenos com
existência própria e independente da ciência.
A relação entre fé e ciência é muito
interessante. A fé independe da ciência (do método científico) para existir,
mas a ciência depende da fé (não digo fé em Deus, mas da capacidade de crer).
Também, não é porque a fé independe da ciência para existir que elas não possam
estabelecer relações. A mim, particularmente, s ciência muito me acrescenta a
fé em Deus. Muito me encantam as ciências da natureza, bem como as ciências
humanas e as linguagens, e em cada uma delas consigo estabelecer conexões com
minha fé em Deus.
“Dediquei-me
a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo o que é feito debaixo do
céu. Que fardo pesado Deus pôs sobre os homens! Fiquei pensando: eu me tornei
famoso e ultrapassei em sabedoria todos os que governaram Jerusalém antes de
mim; de fato adquiri muita sabedoria e conhecimento. Por isso me esforcei para
compreender a sabedoria, bem como a loucura e a insensatez, mas aprendi que
isso também é correr atrás do vento. Pois quanto maior a sabedoria, maior o
sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto.”
Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os
seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele
são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre amém.