sexta-feira, 11 de maio de 2018

A ciência faz a crença em Deus obsoleta?



A ciência faz a crença em Deus obsoleta?
Ao elaborar uma resposta para essa questão, no contexto da academia, talvez a maior parte dos indivíduos parta da premissa de que o discurso científico é superior ao discurso da fé. Minha proposta é relativizar essa aparente verdade.  Desse modo, a resposta a essa pergunta vai variar entre as subjetividades. Para alguns a resposta é sim, mas para mim não é. Na minha perspectiva a ciência não torna a crença em Deus obsoleta; na verdade, mais que isso, considero muita pretensão atribuir à ciência esse poder.  
A fé em Deus é anterior ao modelo de conhecimento vigente, de bases científicas, e mesmo com o progressivo desenvolvimento da ciência moderna não ocorreu, como talvez previsto por alguns, o desaparecimento da fé. A fé não pode ser extinguida, porque é uma característica inerente (alguns dirão ontológica) ao ser humano. Crer/ confiar/ter convicções/ter esperança faz parte de ser humano. Todo homem tem fé, mesmo que não seja em Deus. O homem constrói, crê e adora seus deuses (objetos, pessoas e sistemas sociais diversos). Alguns depositam fé na ciência, eu escolho depositar minha fé em Deus. Não significa que desprezo a ciência, mas ela não possui minha confiança plena e minha esperança. Sou um exemplo prático, estando na academia, de que a ciência não tem o poder de extinguir a fé, de torná-la algo ultrapassado.
A ciência não é o único conhecimento existente, é um entre outros. Acredito na ciência como um tipo específico de conhecimento com características peculiares, cuja principal seria a sistematização, com seus procedimentos, métodos e instituições. A ciência é uma forma de pensar, mas não é a única. Porque eu deveria submeter a fé em Deus ao método científico de pensar? A fé não possui a natureza da ciência, não está submetida a suas comprovações. Não preciso usar argumentos científicos para defender minha fé, o que seria até mesmo uma contradição. Passarei a usar argumentos de fé em defesa da minha fé. O Apóstolo Paulo, divinamente inspirado, expôs em sua 1ª Carta aos Coríntios a diferença de natureza entre a sabedoria humana e a sabedoria de Deus:
E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
1 Coríntios 2:4-14
Muito se questiona a fé em Deus no ambiente acadêmico, mas também muito se pode questionar a ciência. Quem produz a ciência? É a ciência neutra? A quem tem servido as “evoluções” da ciência, que muitas vezes tem produzido a involução do ser humano e da sociedade? Não entendo a ciência como um saber completo, absoluto, que teria o poder de extinguir os outros saberes que o ser humano carrega em si. A ciência não é plena, carrega fragilidades. Existe a maior das contradições possíveis em sua constituição: ser produzida pelo ser humano. Busca objetividade e neutralidade mas é produzida por seres subjetivos, num contexto de relações sociais complexas marcadas por interesses e disputas de poder.
Para que a fé exista ela precisa ser cientificamente comprovada? A fé independe da ciência para existir. Muitas vezes a fé, a religião, comportamentos e artefatos a ela relacionados são até mesmo tomados como objetos de investigações científicas, mas são fenômenos com existência própria e independente da ciência.
A relação entre fé e ciência é muito interessante. A fé independe da ciência (do método científico) para existir, mas a ciência depende da fé (não digo fé em Deus, mas da capacidade de crer). Também, não é porque a fé independe da ciência para existir que elas não possam estabelecer relações. A mim, particularmente, s ciência muito me acrescenta a fé em Deus. Muito me encantam as ciências da natureza, bem como as ciências humanas e as linguagens, e em cada uma delas consigo estabelecer conexões com minha fé em Deus. 

 “Dediquei-me a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo o que é feito debaixo do céu. Que fardo pesado Deus pôs sobre os homens! Fiquei pensando: eu me tornei famoso e ultrapassei em sabedoria todos os que governaram Jerusalém antes de mim; de fato adquiri muita sabedoria e conhecimento. Por isso me esforcei para compreender a sabedoria, bem como a loucura e a insensatez, mas aprendi que isso também é correr atrás do vento. Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto.”
Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre amém.